Cássio Santana e Nathali Gonçalves
Com o objetivo de refletir sobre formas de superação do sexismo na mídia, o debate “Propaganda sem Machismo: um debate sobre o lugar da mulher na publicidade e ferramentas de combate ao sexismo na mídia” ofereceu ao público presente no auditório do Pavilhão de Aula da Federação I (PAFI), na Universidade Federal da Bahia (UFBA), a oportunidade de discutir o lugar que é dado à mulher nos meios de comunicação.
Marcaram presença a deputada estadual Luiza Maia (PT/BA) e a jornalista e colunista da Carta Capital, Maíra Kubik Mano. O evento foi fruto da parceria entre o Grupo de Estudos Feministas em Política e Educação (Gira) e o Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (BEGD/NEIM/UFBA).
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O debate girou em torno, sobretudo, do papel da mulher na propaganda, o que foi apontado, por unanimidade, como um problema a ser combatido. De acordo com a deputada Luiza Maia – responsável pelo Projeto de Lei 20.628/2013, que busca proibir o uso de imagens abusivas de mulheres em peças publicitárias -, a publicidade brasileira atenta reincidentemente contra a integridade das mulheres.

“A propaganda nos nivela a objetos, a mercadorias. A utilização do corpo da mulher se confunde, inclusive, com o produto. Eu acho uma coisa muito agressiva”, ponderou a deputada. “Agora estamos com essa proposta, que é a PL 20.628, para a gente fazer essa discussão e dizer ao mercado publicitário que não aceitamos mais esse tipo de abordagem”.
Para a jornalista Maíra Mano, a mídia tem um papel central na manutenção do machismo na sociedade, e a publicidade exerce importante função. “A mídia ocupa um papel central nas relações sociais. Nesse sentido, ela acaba justificando e potencializando discursos violentos. Dentro desses espaços de produção, com certeza a publicidade é um dos mais violentos para as mulheres. Sempre a mulher é um produto à venda, um produto à venda dentro de um padrão de beleza”, reclamou.
Segundo Maíra, o problema da objetificação da mulher na propaganda perpassa a participação da sociedade civil nos meios de comunicação. “Nossa constituição prevê a participação da sociedade nos meios de comunicação, mas isso não acontece. Nós temos hoje o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), mas isso fica muito aquém de participação efetiva da sociedade. Na verdade, é só um conselho de classe. Eles discutem sobre eles mesmos. Não podemos esperar desse conselho uma sensibilização a questões de gênero”, disse.
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Na Assembleia Legislativa da Bahia, a deputada Luiza Maia denuncia a falta de paridade entre homens e mulheres na casa como uma dificuldade no avanço de pautas pró-mulheres. “Dos 63 vagas (para deputados), nós só temos 7 mulheres. A gente precisa dar um salto de qualidade, exigir a paridade, uma reforma política que permita fazer uma disputa mais igualitária pra poder avançar em nossas pautas”, defendeu.
Hashtags – Um fenômeno relativamente novo, que vem ganhando cada vez mais adeptos, são protesto nas redes sociais com o uso das chamadas hashtags, categorização de conteúdos publicados na rede. Nos últimos dias, campanhas como #Meuamigosecreto, que denuncia atitudes machistas vivenciadas diariamente por mulheres viralizaram na rede.
“O que a gente tem como importante resistência é a internet, um espaço essencial para reflexão e luta. O movimento feminista está conseguindo fazer esse contraponto. Nós, mulheres, estamos conseguindo problematizar e divulgar nossas pautas utilizando os próprios meios de comunicação como instrumentos de luta”, pontuou Maíra.
Não foi a primeira vez que uma campanha desse tipo, organizada por mulheres, teve grande repercussão. Em outubro, a campanha #Meuprimeiroassedio tomou as redes, ficando no Trending Topics do Brasil. A ação tomou forma após comentários com teor sexual contra uma participante, de apenas 12 anos, do programa Master Chef Jr.
Imagens da página dedicada à campanha #meuamigosecreto